Instituto Pró-Carnívoros: a luta pela conservação da vida selvagem

No coração da Mata Atlântica, uma organização sem fins lucrativos tem desempenhado um papel fundamental na pesquisa e conservação da vida selvagem.

O Instituto Pró-Carnívoros, com seus 25 anos de trajetória, surge como um farol na paisagem da conservação, impulsionando a pesquisa e o comprometimento com a preservação dos carnívoros neotropicais.

O objetivo do Instituto Pró-Carnívoros é claro: proteger e preservar os mamíferos carnívoros, como onças-pintadas, jaguatiricas e lobos-guarás, que habitam a Mata Atlântica e outros biomas brasileiros.

Como figura destacada na Pró-Carnívoros, Sandra Maria Cintra Cavalcanti personifica o compromisso e a paixão pela vida selvagem.

Hoje, temos a honra de mergulhar mais fundo em sua experiência e visão, explorando a jornada do Instituto Pró-Carnívoros sob seu ponto de vista, através de uma entrevista rica e repleta de aprendizados.

De início, Sandra nos apresenta ao panorama sobre o qual trabalha, assim como o próprio instituto, com dedicação e parcerias fundamentais para um grande objetivo:

“Desde a minha concepção até os dias atuais, testemunhei um notável percurso de crescimento e amadurecimento. Embora seja uma instituição sem fins lucrativos, acumulo 25 anos de história, nos quais diversifiquei meus projetos e parcerias, proporcionando um impacto prático na conservação. Colaborações sólidas com diversas entidades têm sido fundamentais para moldar políticas públicas em prol da vida selvagem. Essa jornada reflete a essência da minha missão: ser ágil e eficaz na pesquisa de mamíferos carnívoros, ultrapassando barreiras burocráticas para atingir resultados tangíveis.”

Contudo, Sandra evidencia a jornada que o Instituto Pró-Carnívoros serve à proteção, sim, mas que, acima de tudo, é necessário o envolvimento de todos para que o monitoramento de animais selvagens tenha o alcance pretendido:

“Trabalho com animais de grande porte, como onças-pintadas, em áreas selvagens. Aprendi a lidar com esses animais, o que me dá segurança. Não sinto medo, pois o conhecimento adquirido me permite identificar possíveis ameaças. Embora as mudanças climáticas sejam relevantes, meu foco é na ecologia e biologia das espécies. Minha experiência única na Mata Atlântica, especialmente com onças-pintadas, me proporcionou valiosa expertise. Apesar do terreno desafiador, desenvolvi métodos de levantamento e monitoramento ao longo do tempo.”

Com o avanço tecnológico, o Instituto Pró-Carnívoros provou que o contato com a natureza é essencial:

“Meu trabalho pioneiro de encoleiramento de onças-pintadas na Mata Atlântica é um marco. Colaborando com parceiros, consegui colocar coleiras em onças, contribuindo para um entendimento mais profundo de seus movimentos. A evolução das minhas técnicas de pesquisa, passando de rádios e antenas para tecnologias avançadas como GPS e coleiras via satélite, reflete meu compromisso com a eficiência e segurança no trabalho de campo. O contato direto com a natureza é essencial para mim. Formo pesquisadores por meio de aprendizado prático, mentorias e experiências no mundo real. Transmito conhecimento e experiência no campo para as novas gerações, garantindo a continuidade da tradição de pesquisa e conservação, mesmo diante das mudanças tecnológicas.”

Além disso, Sandra foi cirúrgica em sua fala sobre a importância da experiência de campo:

“Minha abordagem integrada equilibra trabalho no campo e tecnologia avançada. A experiência de campo é fundamental, aprimorada por tecnologias como GPS e coleiras via satélite. Formo pesquisadores com compreensão prática e teórica, transmitindo conhecimentos essenciais como onde colocar armadilhas. Mesmo com tecnologias avançadas, a experiência de campo é insubstituível, ensinando o equilíbrio entre tecnologia e prática.”

Por sua vez, é fundamental para o Instituto Pró-Carnívoros manter a sinergia entre os membros da equipe:

“A sinergia em minha equipe é vital, com membros especializados em diversas áreas. Moldamos novas gerações de pesquisadores, transmitindo conhecimento técnico e compromisso com a pesquisa e conservação. A interação entre as especializações permite abordar aspectos econômicos, sociais e ecológicos da conservação. É como montar um quebra-cabeça, com cada especialização contribuindo para a imagem completa. Conto com mais de trinta associados, cada um com sua especialização única. Essa diversidade é fundamental para minha atuação. Trabalhamos juntos, aproveitando essas especializações para sustentar a instituição e conduzir pesquisas eficazes.”

Um dos parâmetros mais eficazes adotados pela Pró-Carnívoros é a utilização de seus conhecimentos na geração de recursos para informar e instruir:

“A tecnologia é crucial na geração de conhecimento a partir dos dados. Na área de monitoramento, ela oferece oportunidades para coletar e analisar informações valiosas. Realizo análises regulares desses dados, resultando em publicações variadas. Produzo manuais para produtores rurais, com informações sobre identificação, prevenção e controle da predação. Esses materiais disseminam conhecimento de maneira prática. Além disso, tenho planos de ação que orientam a pesquisa e conservação de mamíferos carnívoros no Brasil, envolvendo colaborações intensivas e reunindo diversos setores. Esse processo é fundamental para gerar ideias e ações específicas para a conservação das espécies.”

Contudo, Sandra evidencia a importância das demais tarefas, que vão além da pesquisa e atuação de campo:

“A diversidade de ferramentas reflete meu compromisso em disseminar conhecimento para diferentes públicos. Tecnologia e expertise convergem para promover a conservação. Isso contribui para o aporte institucional necessário para manter projetos em andamento, proporcionado pela parceria com vocês. Isso me permite cobrir despesas variadas, incluindo suporte administrativo. As funções da equipe do escritório são fundamentais, embora frequentemente passem despercebidas, mas são vitais para o funcionamento eficaz da instituição.”

No entanto, sua paixão e determinação continuam a impulsionar a instituição na vanguarda da conservação, como Sandra afirma a seguir:

“O desafio é garantir a compreensão da relevância do meu trabalho em um mundo complexo. Enfrento fatores externos, como o aumento nos preços, que afetam meus projetos de pesquisa. Lidar com custos de pesquisa, superar burocracia, e enfrentar a incerteza de financiamento é como um treinamento rigoroso. Situações urgentes, como reclamações sobre gado perdido ou a necessidade de financiamento para um veículo, fazem parte do meu treinamento constante.”

Para trazer um pouco mais de sua experiência de campo, e a atmosfera do dia a dia do Instituto Pró-Carnívoros, o relato de Sandra culmina em um depoimento que verdadeiramente apresenta tanto sua experiência profissional quanto o principal objetivo do instituto no qual trabalha:

“Quando estou apaixonada pelo que faço, não há feriado ou clima ruim que impeça o trabalho. Se chover, saio para verificar as armadilhas. O desafio é inspirar a nova geração, mostrando que há mais no mundo além das telas. Trabalho em campo e colaboro com as pessoas. Estava em uma fazenda no interior de São Paulo, onde o dono nos convidou para visitar um lugar. Chegamos a um local que não me impressionou muito. Então, fomos a outro local, onde disse: ‘Isso é o que uma onça precisa’, e logo encontramos uma.”

A partir desta entrevista, Sandra Maria Cintra Cavalcanti mostra-se uma figura central no Instituto Pró-Carnívoros, e revela não apenas a expertise técnica e científica dessa instituição, mas também a paixão ardente que impulsiona cada ação em prol da conservação da vida selvagem.